Tecnologia: desafios ao Jornalismo e à democracia

 

No Brasil, vemos a crise da autoridade do jornalismo deslocar-se de sentidos sociais para o simples uso nas ferramentas digitais on-line. Mas o descrédito que a mídia oligopolizada no Brasil têm enfrentado faz frente com a crise de credibilidade de outras instituições democráticas.

Porém, são questionáveis as análises que propõem soluções para um novo modo de fazer jornalismo centrados no saber tecnológico. O sentido sociocultural, idealizado pela população na democracia, demonstra ser mais afetado pela política tradicional do que pela própria tecnologia. Porém, é certo, de que essa mesma política foi ressignificada com o uso massivo da comunicação on-line. Mas de outro modo, isso coloca o jornalismo hegemônico brasileiro no centro da crise institucional, que atravessam as instituições no país.

E isso pode ser observado em relação a História da imprensa no Brasil: chegou tardiamente, em 1808, com a fuga da família real portuguesa para a então colônia. A empresa jornalística se deslocaria, de um poder central a outro, representado pelas oligarquias para depois representar a ascensão da burguesia industrial.

Portanto, falar de regulamentação dos meios de comunicação no Brasil é ter contra si a mídia hegemônica carregada da confusão entre “liberdade de expressão” e “liberdade de imprensa”.

 

 

 

Já na década de 1960, a radiodifusão crescia velozmente no Brasil, e sua importância levou à criação do Código Brasileiro de Telecomunicações, que estabeleceu as regras para concessão e renovação de licenças. O processo de criação da lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962 parece ser um exemplo do caráter constitutivo da mídia hegemônica brasileira e da capacidade de articulação e de intervenção do setor privado sobre o público.

Décadas depois, já durante o golpe militar, as empresas de radiodifusão deram apoio explícito ao Governo, eu sua maioria, e a exigência por garantias constitucionais que assegurassem o direito à comunicação bateu às portas da Assembleia Constituinte. Em 1984, a Frente Nacional de Lutas por Políticas Democráticas de Comunicação, propondo um capítulo sobre comunicação social na Constituição. Essas demandas foram combatidas pelas empresas de mídia. Porém, o resultado foi um capítulo de cinco artigos que abordam, de maneira geral, muitas das principais reivindicações do movimento pró-democratização. A Constituição de 1988 ainda é uma referência nas lutas de hoje pela democratização da mídia.

A ameaça de desqualificação da atividade jornalística por plataformas sociais digitais, provocam uma disfunção da atividade jornalística, e o resultado é a propagação de fake news em sites que geram muito tráfego. E esse poder proporcionado pela tecnologia não será disciplinado pela autorregulação do setor, mas pela força do Estado no exercício legal da democracia.

Porém, o problema ao se falar em regulação é do debate acerca da censura à liberdade de expressão. Tal qual o cerne da questão: como ditar um Jornalismo norteado pelo futuro do mercado brasileiro, da opinião efetiva de profissionais em meio à crise de credibilidade da mídia corporativa? Qual o peso das novas tecnologias no novo fazer jornalístico e no mercado oligopolizado brasileiro?

Há o risco concreto para o exercício da democracia, principalmente em função das fake news veiculadas nas mídias sociais e dos ataques levados a cabo contra o jornalismo responsável.

As práticas de “firehosing”, que tiveram início na Rússia, vieram para o Ocidente como estratégia de publicidade política e posteriormente foram questionadas pelo uso de fake news em seus canais de comunicação e nas redes sociais. As técnicas de desinformação costumam ser efetivas e eficientes pelo uso de publicidade em vários canais, pela rapidez, continuidade e repetição de mentiras, além da despreocupação com a consistência da própria argumentação.

O negócio jornalístico e o profissional jornalista enfrentam crises simultâneas: a de credibilidade e a das transformações a partir das novas possibilidades criadas pelas tecnologias de comunicação e informação.

Essa mudança, em pleno desenvolvimento, precisa chamar a atenção dos agentes políticos da sociedade, que deveriam ser os promotores de políticas públicas que contemplem os movimentos de ação e reação às consequências do novo tempo. O problema é que a democracia e o mercado de trabalho não podem esperar pela inevitável alteração no sistema político da sociedade. Mas novas abordagens precisam ser definidas o quanto antes.

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