“Life and Debt”: Uma análise econômica Social e de desenvolvimento da Jamaica

 

Países arrasados pelos “ajustes” estruturais exigidos pelo FMI e Banco Mundial em troca de empréstimos não é novidade nenhuma.

Até Portugal já conhece essa experiência.

Jamaica é mais um país, que privatizou e abriu mão do seu mercado para receber dólares americanos.

O prejuízo a curto prazo foi muito maior do que o do próprio empréstimo. A sua economia desmoronou.

As manobras dessas instituições – que representam um grupo de banqueiros mundiais – para transformar esses países em lugares cada vez mais miseráveis, para assim levar seus recursos.

No caminho colocam os países num ciclo de empréstimo e pagamento de juros, que tende a se eternizar.

Táticas denunciadas no livro “confissões de um assassino econômico”, de John Perkins.

chegada dos espanhóis à ilha da Jamaica aconteceu em 1494, quando mataram os índios arauaques que ali viviam e levaram escravos africanos para plantar cana-de-açúcar.

Em 1670, os britânicos assumiram oficialmente o controle da ilha. A partir do fim da escravatura (1833) e dos privilégios comerciais (1846), a região ficou empobrecida.

Independência e atualidade

O país tornou-se independente em 1962, após trinta anos de luta e, no mesmo ano, entrou para a Comunidade Britânica. A Jamaica aproximou-se do Bloco Soviético durante a Guerra Fria, em 1970.

Já na década de 1980, o país adotou uma política liberal e ficou sob a influência dos Estados Unidos.

Manley e Jamaica se renderam sob pressão e, eventualmente, tomaram a rota do FMI:

O conservador que assumiu o cargo em 1980 inverteu os programas do primeiro-ministro Manley. No momento em que o primeiro-ministro Manley voltou ao cargo em 1989, ele se moveu muito mais para a direita sob o impacto da mudança das circunstâncias geopolíticas mundiais e do domínio da ideologia neoliberal. Como um obituário em The Economist, colocou-o secamente: “Ele fez como o FMI lhe disse, liberalizou o câmbio e acelerou a privatização das empresas estatais”.

O programa de tamanho único, uma condição dos empréstimos do FMI e do Banco Mundial, inclui a desvalorização da moeda (tornando as importações mais dispendiosas), a privatização em massa de ativos do estado (geralmente feito a preços de venda), cortes nos salários e priorização dos lucros do capital estrangeiro sobre o próprio bem-estar de um país. O filme de 2001, Life and Debt, produzido e dirigido por Stephanie Black, representou um país de joelhos graças ao “ajuste estrutural”.

O filme mostra a destruição da indústria de banana da Jamaica e a diminuição de sua capacidade de produção de leite, ja que o país é obrigado a se abrir para a penetração irrestrita do capital multinacional, enquanto essas empresas continuam recebendo subsídios fornecidos pelos governos domésticos. O site do Life and Debt informa:

“Em 1992, as políticas de liberalização exigiam que os impostos de importação sob  sólidos de leite importados dos países ocidentais fossem eliminados e os subsídios à indústria local fossem removidos. Em 1993, um ano após a liberalização, milhões de dólares de leite local não pasteurizado tiveram que ser despejados, 700 vacas foram abatidas de forma prematura e vários fazendeiros de laticínios fecharam as operações. Atualmente, a indústria reduziu quase 60% e continua a diminuir. É improvável que a indústria de produtos lácteos revitalize seu crescimento “.

 A Jamaica atualmente tem uma relação dívida-para-PIB de 140%, um nível insustentável que aumentou. No entanto, é exigido como condição para o último empréstimo do FMI, para  o país manter um superávit orçamentário sem precedentes de 7,5%. Assim, o documento declara que o país está passando pela maior austeridade do mundo, porque esse superávit, o mais alto dito a qualquer país, deve ser extraído dos trabalhadores além do que é extraído para pagamentos de juros.

A Jamaica refinanciou sua dívida duas vezes nos últimos três anos, e seu último empréstimo do FMI, feito em 2013, ocorre dois anos depois que os empréstimos anteriores foram interrompidos, porque o governo disse que pagaria os aumentos salariais prometidos aos funcionários do setor público. As trocas de dívidas reduziram as taxas de juros e prolongaram o período de pagamento, uma combinação que não significa necessariamente que menos juros serão pagos. Sem alívio da dívida, não há saída desse círculo vicioso.

Os empréstimos pelo FMI, não promoveram enriquecimento e nem diminuíram a pobreza.

Ao contrário, só aumentou os índices de pobreza, violência, e outros problemas estruturais no país, como o desinvestimento e dívida externa.

"Na melhor das hipóteses, as políticas do FMI ajudaram a abastecer o país com alguma comida barata. Na pior, destruíram a produtividade local. Um país não pode existir sem ser produtivo por si só".

"Life and Debt" conta a história de dois países: de um lado, o paraíso turístico ensolarado e feliz, de outro - o da maioria esmagadora dos jamaicanos - um país cheio de problemas, onde os produtores locais não encontram espaços para a sobrevivência.

Quando a Jamaica assinou o primeiro acordo com o FMI, no início da década de 1990, o país estava ainda lutando para assumir sua independência da Inglaterra, e antes de vencer a batalha caiu nas malhas de credores internacionais, segundo Black.

"Decidimos que a colonização era errada, e, de alguma forma, com a independência vem essa forma de recolonização, em nome da incorporação do país na economia global".

O termo globalização acabou por conotar um processo irreversível além do alcance daqueles que decidem as políticas.

"Life and Debt" é uma crítica da visão disseminada de que a globalização é tão inevitável quanto intrinsecamente benéfica.

 

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